Oppenheimer surpreende e se consolida como obra-prima de Nolan
- Mônica Araujo

- 27 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de out. de 2024
Em Oppenheimer, Christopher Nolan conta a história do criador da bomba atômica com maestria, misturando ciência, política e conflitos pessoais em um filme esteticamente tradicional, mas incrivelmente envolvente.

Confesso que, inicialmente, quando me propus a assistir o filme Oppenheimer, foi meio sem vontade. Imaginei: Meu Deus! Passar 3 horas no cinema para ver a história da vida do criador da bomba atômica, seria total desperdício do meu tempo. Estava com total má vontade, por tudo que ele, os EUA e sua bomba fizeram ao Japão e ao resto do mundo.
Mas quando sentei na cadeira, do cine Belas Artes, amei o filme do início ao fim. A obra me fisgou imediatamente e não tirei os olhos da tela. Um filme esteticamente tradicional, mas muito bem feito. A utilização dos primeiros planos, do recurso do preto e branco e dos flashbacks são muito interessantes.
Uma história de vida, muito bem contada, pelo diretor Christopher Nolan. Os atores ótimos, em especial, Cillian Murphy, o intérprete do incrível Thomas Shelby, da série Peaky Blinders, da BBC.
O filme é baseado no livro American Prometheus, biografia de J. Robert Oppenheimer escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin, publicado em 2005 e traduzido para o português. A obra trata de um dos momentos mais cruciais da história contemporânea, a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Se inicia em 1926, quando Robert Oppenheimer, um jovem doutorando judeu, conta com apenas 22 anos, e está sofrendo com crises de ansiedade.
O físico é apresentado como uma personagem cheia de conflitos e incertezas e a construção da bomba diante do iminente perigo nazista, em 1942, é “quase” compreensível. Após estudar na Alemanha e trazer os avanços da física quântica para os EUA, Oppenheimer é recrutado pelo general americano, Leslie Groves, para comandar a equipe que executará o Projeto Manhattan, que terá como objetivo desenvolver a bomba atômica. Mas, quando a Alemanha é derrotada, e o presidente Harry S. Truman ordena que Hiroshima e Nagasaki sejam bombardeadas, parte dos físicos começam a questionar o projeto.
A trama se desenvolverá até o período da guerra fria, entre os EUA a União Soviética. Mostra a contraposição de Oppenheimer a continuidade das pesquisas para a realização da bomba de hidrogênio, e sua consequente indisposição como o governo dos EUA e parte da comunidade científica.
Em Oppenheimer podemos observar a utilização da ciência pela política, a política que permeia a própria ciência e até mesmo como questões pessoais e mal entendidos são determinantes e utilizados de acordo com os interesses dos poderosos. Como é o caso da utilização da aproximação do físico, em sua juventude, a militantes comunistas para alijá-lo do poder, quando suas posições já não interessam mais ao governo.
Segundo o diretor parte do filme foi realizado, realmente, em Los Alamos, e contou com vários cientistas reais como figurantes que auxiliaram na reconstituição da história. Outro recurso muito bem utilizado foi a diferenciação temporal e psíquica feita a partir do recurso estético de cenas coloridas que seriam a representação subjetiva ou o olhar do próprio físico sobre sua experiência e as cenas em preto e branco que contariam a narrativa sob a perspectiva “objetiva”.
Oppenheimer, além de ser um dos filmes concorrentes ao próximo Oscar, foi destaque da premiação da Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão, conhecida como BAFTA Film Awards. O filme foi premiado em sete categorias: melhor filme, melhor ator para Cillian Murphy, melhor ator coadjuvante para Robert Downey Jr., melhor direção para Christopher Nolan, melhor fotografia para Hoyte van Hoytema, melhor edição para Jennifer Lame, melhor trilha original para Ludwig Göransson.
Por isso, Oppenheimer é um filme muito interessante e merece ser assistido.




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